Nossas duas últimas vitórias não podem ser classificadas de outra forma senão como maiúsculas, memoráveis, indispensáveis. Contra os dois rivais de G4, desconsiderando o desgarrado Cruzeiro, aplicamos vitórias essenciais na afirmação do time neste segundo turno, para abrir vantagem e dar segurança.
Contra o Atlético-PR, jogando na Arena, saímos mais ofensivos no esquema 4-3-3. Os problemas de meio-campo persistiram, mas tivemos absoluto domínio no primeiro tempo, em que marcamos o tento que nos deu a vitória. Um lindo gol da infiltração de Riveros, aquele que diziam ser desconhecido e aparece como uma das melhores contratações dos últimos tempos. A postura aguerrida, marca da nova era Portaluppi, induz ao recuo para defender-se, no entanto. Por isso, mais uma vez, passamos sufoco no segundo tempo, embora tenhamos nos guardado muito bem. Diria que temos a melhor defesa do campeonato, pois não necessariamente ela é a que sofre menos gols, pode haver outros fatores nesta equação. Nossa defesa começa nos atacantes que têm se sacrificado pela equipe, o que vem dando certo, são 5 jogos sem sofrer gol. Com garra de sobra, mantivemos a vitória e chutamos o primeiro dos classificáveis para a LA14.
Gol de volante com tranquilidade de centro-avante: Riveros. (Foto: Mauro Vieira/Agência RBS)
Ainda mais emocionante (sim, nossa emoção sempre foi distinta daquela que se arrepia com ‘chogo bonito’) foi a batalha contra o Botafogo, na casa deles, o lendário Maracanã. Sem Vargas, suspenso, o Santo foi de 3-5-2, pois Werley se recuperou. Já que em time que está ganhando não se mexe, os dois velhinhos, Zé Roberto e Elano, continuam esquentando banco – deve ser duro verem, com as qualidades que têm, um time bruto como um mamute vencer seguidamente. Embora Koff, o eterno, queira fazer economia no próximo ano, acredito que devemos mantê-los integrados ao elenco, não podemos abdicar de suas experiências.
O jogo começou como esperado, eles atacam, nós nos defendemos e tentamos contra-ataques, mas um componente especial apareceu: Kléber, não contente com o amarelo que já havia recebido, usou força excessiva em uma disputa e foi expulso direto, aos 32′. Tudo o que não precisávamos: jogar fora de casa, contra adversário direto e com um a menos. O juizão se mostrava muito tendencioso e exagerou, sem dúvida. (Em tempo: o Gladiador precisa de terapia; não encontrei o cargo de psicólogo(a) no quadro de elenco, esse profissional é essencial, devemos dar atenção a isso). Nessas alturas, um empate seria lucro. Seria, se não fosse a absurda efetividade dessa atual equipe: uma única chance, é caixa! De uma bola recuada da linha de fundo por Riveros, Alex Telles, melhor cruzador que touro premiado, bateu cruzado sem pulo, no ângulo oposto e o arqueiro inimigo nada pôde fazer. Golaço! Baita golaço que coroa o ano mágico deste guri, que saiu do Grêmio B para brilhar no campeonato nacional mais difícil do mundo, o Brasileirão. Alex Telles já figura nos comentários da TV milionária e foi justamente elogiado por Lédio Carmona, um dos melhores comentaristas do futebol, depois dos três Amigos de Grêmio: “Ele é de longe o melhor lateral esquerdo do campeonato, muito acima do segundo”. Porém, havia ainda todo o segundo tempo…
O melhor lateral esquerdo do campeonato: Alex Telles. (Foto: Luciano Belford/Ag. Estado)
Com um a menos, não nos restaria muito senão fazer o que sabemos: defender. O Santo rearranjou os peões e postou duas fortes linhas de quatro jogadores, com Barcos a frente, na esperança inocente de que ele poderia ter sucesso num contra-ataque. O jogo foi ainda mais monotônico, de uma nota só. Ramiro, a formiga atômica, outro que veio do Grêmio B, deve ter comido duas barras de urânio antes de entrar em campo; correu por três: ele mesmo, Kléber expulso e por Barcos, a barata bêbada. Nossa outra nova e bela revelação correu como se não houvesse amanhã, multiplicou-se, foi onipresente e vem mostrando um espírito guerreiro sem igual; o que lhe falta em altura, sobra em vontade.
Souza, que estava tão pilhado a ponto de dormir com a camisa de jogo dois dias e quem quase fez uma revisão histórica do rival de tanto pesquisar, também foi fundamental para segurar o jogo. Pra dar gás entraram Wendell e Lucas Coelho, que ganhou pontos só por usar a camisa por dentro do calção, possivelmente o único no Brasil a fazer isso, já que Gilberto Silva aposentou. Aqueles que tentavam botar fogo na coisa, tiveram apenas uma chance, que parou nas mãos do nosso gigante Dida, o tranquilo. Um tal de Dória, o mesmo que simulou a falta da expulsão de Kléber, chutou 593 vezes e poderia continuar até a próxima era glacial, sem sucesso. Um desmotivado Seedorf (que usava a camisa por dentro, mas abrasileirou-se) recebia vaias da torcida, o que nos fortalecia ainda mais.
Seedorf, assim como Baier e Ganso (?), nada fez. (Foto: Satiro Sodré/globoesporte.com)
Com garra épica, aquela que só nós temos, mantivemos a goleada e chutamos o outro adversário de LA14. Informações de vestiário dizem que a jogada do gol foi desenhada pelo Santo na preleção; sua adaptação dos esquemas, ainda que muito defensivos ao meu ver, tem se mostrado eficiente; o cara é muito mais que motivador.
O esforço dos jogadores, a obediência tática, são tão evidentes que emocionam. Esta é uma equipe como poucas, ou nenhuma, que jamais vi. Quem não entende quando falamos de Grêmio imortal, assista a esse jogo. Passo a acreditar que o Santo conseguiu transferir aos jogadores o espírito da raça castellana, copero, aquele que só os antigos conhecem, aquele que aparece em contos e lendas dos tempos passados, quando conquistamos o mundo e marcamos no couro a sigla da luta. Se isso se mantiver, o céu não é limite.
Previ um jogo como esse (só faltou chover) e usei a camiseta com as marcas das chuteiras do ídolo Dinho, do Grêmio Libertador, não poderia combinar melhor. Estamos na LA14 e isso significa grana, Geld, money! Essa é a nossa Copa, coparemos!
O Santo, amém. (Foto: Celso Pupo/Ag. Estado)